Origens e evolução
Quando é que a fortaleza foi fundada no topo da colina sobre o rio Tejo, qual a sua planimetria ou como evoluiu ao longo dos tempos, são questões para as quais, dada a escassez de informação, do ponto de vista documental e arqueológico, muito dificilmente encontraremos uma resposta cabalmente satisfatória.
A área de assentamento da Idade do Ferro, baseando-nos nos achados do castelo e noutros distribuídos pela colina, parece corresponder à zona setentrional e sul, mas nada sabemos sobre a tipologia das estruturas do assentamento romano republicano, Imperial ou do período que se seguiu após o desmoronamento do Império Romano até à chegada dos povos islâmicos.
À abundância de espólio da Idade do Ferro, Romano e post romano não correspondem, assim, estruturas suficientemente ilustrativas que nos permitam aferir a tipologia de ocupação, no topo da colina, ao longo de mais de mil anos.
É possível que o assentamento dos povos islâmicos do morro remonte ainda ao século VII depois de Cristo e que a cidade que aqui existiu tenha sido logo fortificada. Está identificada uma grande campanha de obras, na cidade de Lisboa, no período Omíada, mais concretamente no tempo de Hisam al- Mu´ayyad bi-lllãh, empreendidas por Almançor, que ficou registada numa inscrição comemorativa, datada de 985. Esta inscrição, que terá sido encontrada no lanço ocidental do Castelo de São Jorge, utiliza o termo madina ao referir-se a Lisboa, o que significa como bem referiu Carmen Barceló, no Al-andaluz, cidade amuralhada. Assim, poder-se-á deduzir que, na época islâmica, pelo menos desde o século X, a cidade de Lisboa era defendida por uma muralha monumental que teria sido severamente danificada e que urgia reconstruir. Talvez esta destruição seja resultado das incursões de Ordonho III de Leão, em 953 ou do desembarque dos Normandos, em 965.
Seja como for, resta a questão da origem desta inscrição. A lápide terá sido encontrada por Vieira da Silva e estaria colocada no muro, entre as torres do pano Ocidental, quando foi encontrada. É provável, à semelhança de outras cidades de que se conhecem lápides comemorativas de obras, que estivesse próxima ou mesmo sobre uma porta de entrada (Barceló, 2013, 173-174).
As origens da fortificação remontam ao período islâmico. No entanto, nos relatos deixados pelos cruzados ou nas descrições dos geógrafos muçulmanos do século XII, não se refere a existência de um castelo mas sim de um sistema de muralhas que protegiam a cidade.
As referências a um castelo dentro do perímetro muralhado da Alcáçova datam da época de D. Afonso III, o monarca que terá introduzido os princípios de defesa ativa em Portugal, presentes nesta fortaleza, e de seu filho, D. Dinis.
O castelo que hoje podemos observar, de planta quadrangular, com porta em cotovelo, 10 torreões quadrangulares adossados à muralha e uma barbacã na zona Sul e Este, mais vulnerável, com alambor e o fosso com os seus desenhos e inscrições medievais, e a existência de torres albarrãs, é, sem dúvida, um castelo gótico.
A fortaleza foi sofrendo amplas transformações ao longo dos tempos: em pelo menos dois momentos da dominação islâmica, e vários da época medieval cristã – na época de D. Afonso Henriques, após a conquista da cidade, na época de Afonso III, na época de D. Dinis (período para o qual temos bastante documentação), na época de D. Fernando, ou ainda no tempo dos monarcas de D. João I e de D. Afonso V. Também D. Manuel e D. Sebastião promoveram grandes campanhas de obras na fortificação.
Temos, ainda, testemunhos materiais do processo de residencialização do castelo que se terá iniciado eventualmente no século XIII – o local onde viveu o alcaide – mas cujos elementos arquitetónicos visíveis datam da época moderna.
Com a união das coroas em 1580, o castelo passou a ter outras funções: de quartel, prisão, hospital. Esteve aqui aquartelado, durante dois anos, Fernando Álvarez de Toledo y Pimentel, duque de Alba, e a guarnição militar castelhana.