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Arqueologia

Núcleo Arqueológico

Mapa identificação dos locais
Planta Casas Islâmicas com função de cada compartimento

©Sergiy Scheblykin
Idade do Ferro
Idade do Ferro
©Sergiy Scheblykin

Os testemunhos mais antigos da ocupação da colina do Castelo datam do século VII a.C., período da pré-história designado como Idade do Ferro, caracterizado, entre outros aspetos, por comunidades com produção regular de objetos metálicos em ferro e pelo fabrico de cerâmica «a torno», ou seja, com o auxílio da «roda de oleiro». É, também, uma época em que se assiste a um incremento e intensificação das relações comerciais entre povos e a um maior desenvolvimento das comunidades urbanas.

A escolha do topo da colina para a instalação de um provável povoado fortificado, justificou-se pelas condições naturais de defesa oferecidas pela morfologia do terreno, com vertentes íngremes a norte, a nascente e a poente, a existência de nascentes de água, e um potencial de vigilância sobre o vasto estuário do Tejo e as terras em redor.

As estruturas mais antigas, datadas do século VII a.C., são de uma área habitacional da qual se encontra preservado um compartimento, provavelmente uma cozinha, onde se identificaram uma zona de fogo e diversos recipientes cerâmicos. A área foi ocupada continuamente, ao longo dos séculos, numa sucessão de momentos de ocupação e abandono, que ficaram expressos no reaproveitamento e adaptação dos espaços e estruturas mais antigas, que foram sendo adequadas às necessidades de cada momento.

Destas comunidades que ocuparam sucessivamente esta área, numa alternância de períodos de ocupação e abandono, ficaram preservados diversos objetos – panelas, potes, pratos, taças e ânforas – que revelam que as populações que aqui viveram, ao longo do século VII a.C. a III a.C., adquiriam objetos provenientes do Mediterrâneo Oriental, da Grécia ao Próximo Oriente e à Costa do Norte de África, comercializados pelos fenícios, partes deles expostos no Núcleo Museológico.

Casas Islâmicas
Bairro Islâmico
©Fernando Guerra

A área residencial das elites muçulmanas do século XI-XII, indissociável da fundação do castelo, ocupa a zona norte da alcáçova, a nascente do castelo, no sítio conhecido, hoje, como Praça Nova. A construção deste bairro norte da alcáçova, datado da segunda metade do século XI, resultou do que parece ter sido uma reformulação urbanística da zona, que implicou o aterro geral da área, para regularizar o terreno e construir as casas e as ruas com os alinhamentos que hoje conhecemos.

A área é caracterizada por um conjunto de estruturas habitacionais, entre as quais se destacam duas casas geminadas de dimensões generosas, respectivamente 160 m² e 187 m², enquadradas por três ruas e por outras construções mais simples. A planta das casas de maiores dimensões, organiza-se em torno de um pátio central, em redor do qual se distribuem os vários compartimentos, o salão e as alcovas e outros compartimentos, a cozinha, a despensa, e a latrina. As outras, mais pequenas, são de planta simples, de um ou dois compartimentos.

As casas maiores apresentam acabamentos de qualidade, particularmente nos salões e alcovas, com estuques pintados, decorados com motivos geométricos, e pavimentos de argamassa branca ou vermelha (tipo almagre). Os pátios, zona de luz e ventilação, têm pavimentos de laje de pedra, e, um dos pátios, possui, ainda, os vestígios de estuques pintados, decorados com um motivo característico da cultura islâmica, o “cordão da felicidade”. As despensas, com áreas amplas, situadas em ambas as casas na zona mais fresca, a nascente, conservam os silos subterrâneos que serviam para armazenar cereais e os locais onde eram semienterradas as grandes talhas de cerâmica, onde se guardavam outras vitualhas e a água para consumo diário, uma das quais, em exposição no Núcleo Museológico. As casas dispunham, também, de latrina e de saneamento com ligação à rua.

Na rua empedrada, de acesso às casas, encontra-se intacto o sistema de saneamento que conduzia os esgotos das casas para uma fossa. No muro que ladeia a rua de acesso às casas, e que separava a zona residencial da zona religiosa, são visíveis os vestígios da entrada monumental que dava acesso à área da mesquita, cuja implantação seria no local da atual igreja de Santa Cruz.

Época Moderna
Palácio dos Bispos
©Fernando Guerra

Ocupando toda a área do atual Núcleo Arqueológico, o antigo paço episcopal teria sido construído sobre as edificações de época islâmica, cujos terrenos foram doados por D. Afonso Henriques a D. Gilberto, Bispo de Lisboa, após a conquista de Lisboa, em 1147.

As ruínas visíveis correspondem às alas nascente e central do piso térreo, normalmente destinado a área de acesso e de serviços, como as cozinhas, as despensas, os armazéns, ou a estrebaria. 

Na ala nascente, o núcleo mais antigo, constituído por um pavimento sobrelevado, em argamassa vermelha, com um motivo central formado por azulejos de aresta e losetas verdes e brancas, datado de finais do século XV ou inícios do século XVI, corresponde, provavelmente, às obras realizadas por D. Isabel de Sousa da Silva. Num outro espaço, numa cota inferior, são observáveis os pavimentos de sucessivas remodelações – o empedrado do século XVI e o de tijoleira do século XVIII. 

Também neste espaço ficou conservado um vão de uma porta e de uma janela, e parte do revestimento das suas paredes, um painel de azulejos figurados, azuis e brancos com manganês, com cercaduras decoradas com anjos entrelaçados em motivos vegetalistas, de finais do século XVII, cujos fragmentos estão expostos no Núcleo Museológico. 

Na continuidade deste compartimento, é visível o negativo de uma escadaria que daria acesso ao piso superior. Na ala central, destaque-se a pequena despensa subterrânea com cobertura em abóbada e acesso por escadas. 

Nos escombros, ficaram ainda preservados alguns objetos de uso quotidiano, faianças e porcelanas dos séculos XVII e XVIII, entre outros, apresentados na exposição permanente, que testemunham a riqueza de uma das últimas famílias fidalgas a residir na alcáçova.