O Castelo de São Jorge
O Castelo de São Jorge, situado no topo da colina, é um monumento militar icónico e faz parte de um sistema defensivo complexo que foi sendo transformado ao longo dos tempos.
Apesar das evidências materiais identificadas no decurso das escavações arqueológicas, pouco se conhece do assentamento da Idade do Ferro e do período Romano a que corresponderiam.
Durante a ocupação islâmica a cidade era defendida por linhas de muralhas que desciam a vertente sul da colina em direção ao rio, cujo traçado coincidia mais ou menos com o das muralhas da cidade romana de Olisipo (Lisboa) e onde, no seu interior, se desenvolvia a medina ou cidade; e por uma linha de muralhas que circundava o topo do monte, onde se localizava a alcáçova (qasaba), o grande centro residencial do poder religioso, político, militar, administrativo e social.
É dentro deste espaço que se vai erguer, no período que se sucedeu à conquista da cidade de Lisboa, o castelo medieval como hoje o conhecemos.
Desconhecemos, contudo, como seria o aspeto da fortificação ou alcácer, no tempo da dominação islâmica ou, ainda, no tempo dos primeiros reis cristãos.
A fisionomia do castelo que chegou até nós, pelas características construtivas atribuíveis ao chamado “o castelo gótico”, resulta das transformações ocorridas no tempo de D. Afonso III (1248-1279) e/ou de D. Dinis (1279-1325): perímetro muralhado de formato quadrangular, flanqueado por 11 torres e dividido em duas praças de armas; adarves largos; a torre de menagem – hoje desaparecida, mas que estaria provavelmente sobre a porta de entrada e adossada à muralha -; a barbacã, ou a muralha avançada, de menor altura, com alambor, na zona Este e Sul, destinada a defender zonas mais vulneráveis da fortaleza; um fosso associado e a existência de torres albarrãs.
No ângulo da muralha ocidental com a muralha sul parte um lance de muralha que desce a encosta e em cujo remate se ergue a Torre de São Lourenço, associada uma porta da cidade hoje desaparecida.
Este troço de muralha, assim como o que delimita a zona norte da Praça Nova, integram uma campanha de obras posterior, datada de 1373, promovida pelo rei D. Fernando para defesa da cidade. O objetivo deste grande projeto era dotar a cidade de Lisboa, que se tinha expandido para ocidente e norte, de uma nova e mais ampla cintura de muralhas que a protegesse. Esta cerca, em memória do monarca que a empreendeu, é hoje conhecida como muralha ou cerca fernandina.
As Portas
O Castelo tem, no seu perímetro muralhado, três portas de acesso ao seu interior. Outras portas, localizadas dentro da fortificação, permitem o acesso à primeira e à segunda praça de armas no interior do Castelo.
A porta principal do Castelo encontra-se protegida por uma grande torre, a Torre de Ulisses (eventualmente a Torre de Menagem), e dá acesso ao primeiro pátio de armas do Castelo.
É uma porta primitiva com abóbada de canhão, arco de volta perfeita e planta em cotovelo.
A sua configuração , tinha como finalidade dificultar o acesso do inimigo ao interior, em caso de assédio.
Os portões de madeira foram aqui colocados em 1940.
É uma porta primitiva, em arco ogival, aberta no muro de uma pequena antecâmera a que se acede depois de passar a porta em cotovelo. Dá acesso direto ao primeiro pátio do Castelo.
Do lado interior da praça a porta tem uma configuração em arco de volta perfeita.
A porta ogival, encimada por um nicho, localizada no muro divisório dos dois pátios de armas foi reconstruída, com elementos primitivos, em 1939-1940.
A porta de entrada do lado Sul, com uma ponte em pedra, é uma porta recente.
Inspirada nas representações do Castelo do século XVI, foi aberta na barbacã no decurso da intervenção de 1939.
A Porta Este, com arco de formato ogival, é uma porta original e seria uma das portas principais de acesso ao castelo.
A ponte metálica, projeto do arquiteto Raul Ceregeiro e de Sara de Araújo Sequeira, teve como objetivo a criação de mais um acesso ao interior da fortificação.
A Porta da Traição, situada no paramento norte da segunda praça de armas, entre duas torres, era uma porta oculta para os sitiados saírem a contra-ataque ou por onde fugiam em caso de perigo. A porta dava acesso, do exterior, a um caminho, hoje desaparecido, que seguia pela encosta até à zona baixa da cidade ou para os arrabaldes situados a Norte.
As Torres
O castelo, de planta quadrangular, apresenta 10 torreões adossados à muralha e uma torre ao centro do muro que divide os dois pátios de armas, e que flanqueia, pelo lado sul, a porta de circulação.
O pano Sul do castelo apresenta as torres de maiores dimensões, com 2 ou 3 pisos onde se abrem salas; no paramento Oeste, os cubelos são maciços e de pequenas dimensões, com cerca de 4m x 5m; na zona Norte, as torres, como a torre da cisterna, assentam em grandes embasamentos escalonados e apresentam compartimentos que fazem supor que seriam originalmente rematados por telhados; a zona Este ostenta torres de grandes dimensões, nos ângulos, e uma torre ao centro, com vestígios de ter sido reconstruída. Esta torre não aparece nalgumas representações parecendo ter existido aí, uma porta.
Localizada sobre a porta principal, é a torre que apresenta maiores dimensões e desenvolve-se em 3 pisos. É ainda a torre para a qual estão documentadas mais funções e a que aparenta mais vestígios de reconstrução;
Esta torre é a Torre Albarrã a que aludem as crónicas. Consoante as funções que foi tendo, ao longo dos séculos, ficou também conhecida como Torre do Haver, Torre do Tesouro e ainda Torre do Tombo.
Pelas dimensões e localização sobre a porta de entrada, é provável que corresponda à Torre de Menagem do Castelo.
No seu interior, numa sala com abóbada artesoada, instalou-se, em 1999, um periscópio que permite ver a cidade em 360º e em tempo útil, que se constitui, atualmente, como uma das grandes atrações do monumento.
É a torre mais elevada do castelo, conservando muito da construção primitiva e, por isso, alguns autores identificam-na como a torre de menagem do Castelo.
Em 1779 foi aqui instalado o observatório geodésico de Lisboa, à altitude de 111,229 m., pelo matemático José Anastácio da Cunha.
Esta torre parece ter sido construída ou reconstruída pois não aparece representada na planta do castelo de Tinoco (1650), vendo-se, em seu lugar, um vazio que parece corresponder a uma porta.
Esta torre tem, no seu interior, uma cisterna cuja boca, protegida por guarda de pedra com uma armação em ferro, se encontra localizada no centro do eirado.
Situada no ângulo sudoeste do Castelo, junto ao paço real, tem planta retangular e cerca de 7,6 m por 10 m.
Foi arrasada pelo terramoto de 1755 até pouco mais de 3 m acima das muralhas e reconstruída em fase posterior.
Alguns autores consideram que pode ser esta a torre menagem.
Articulava-se com o Paço Real e faria parte de uma zona habitacional instalada nalgumas torres e dependências do Castelo. Nas representações do século XVI e XVII aparece com telhado de 4 águas e encimada pela bandeira real.
As torres albarrãs eram torres destacadas da muralha e ligadas a ela por uma ponte de pedra.
Estes torreões avançados destinavam-se a reforçar a segurança de zonas consideradas mais vulneráveis e das portas e reforçava, ainda, o ângulo de tiro das guarnições sitiadas.
De origem muito remota, devem ter sido introduzidas na Península Ibérica pelos muçulmanos durante o período almóada (século XIII).
Parece que existiram duas torres albarrãs no Castelo: a torre que hoje é conhecida por Torre de Ulisses e a torre localizada no exterior do pano de muralha norte da alcáçova, de dimensões imponentes, e que sofreu, ao longo dos tempos, algumas transformações estando atualmente integrada no troço da muralha Norte.
A barbacã e o fosso
A barbacã, localizada na zona Sul e Este do Castelo, deve ter sido construída no século XIII.
As barbacãs, de origem almóada, foram introduzidas na Península Ibérica por essa altura e eram muros mais baixos construídos nas zonas mais vulneráveis das fortificações como as portas ou as zonas em que a topografia não oferecia uma defesa natural.
A barbacã do Castelo de S. Jorge, com alambor e fosso, foi colocada junto às duas portas principais de acesso visando oferecer um primeiro obstáculo àqueles que pretendessem tomar a praça.